Instante pleno de emoção: com os lábios a tremer, a criança profere a primeira palavra. Não é ainda uma palavra? Que importa! É um novo signo. Pela primeira vez, aponta com o dedo. Amanhã, falará.
É sobre este momento miraculoso em que desponta o sentido no ser humano que se debruça Boris Cyrulnik. Numa orientação etológica, o autor aborda os mundos perceptivos próprios de cada espécie, os diferentes códigos de comunicação e, sem perder de vista os casos do mundo animal, concentra-se na impregnação que se efectua no período sensível da nossa ontogénese e no papel fundamental do estabelecimento da vinculação afectiva para a génese do sentido. A sua importãncia pode ser constatada nos casos em que não se forma esta vinculação: a criança pura e simplesmente não tenta a aventura da palavra. Exemplo dos autistas, das crianças psicóticas ou abandonadas na sua infância.