"Duma forma injusta e felizmente ineficaz tem-se combatido nos últimos tempos, de diversos modos, o espírito sebastianista, tão alto, tão profundo e também incompreendido a ponto de o considerarem uma decadente manifestação de suposto derrotismo. Desejando eu precisamente com as minhas obras renovar esse mesmo Ideal Sebastianista em sua mais elevada expressão, dando-lhe uma base profundamente filosófica e teológica, não posso nem devo, de maneira alguma, deixar que passe em claro um tal ataque, absolutamente injustificado, ao Sebastianismo, o qual só provém duma falsa, errónea interpretação desse maravilhoso ideal místico e superiormente patriótico. Acho mesmo estranho que ousem tratar com tamanha ligeireza um tema que o Padre António Vieira, Um dos Oito Maiores de Portugal, com o Seu forte arcaboiço mental, o Seu poderosíssimo Pensamento absolutamente nada dissolvente, derrotista, consagrou e glorificou na Sua Obra História do Futuro. Evidentemente - e admiro-me muito de que se suponha o contrário - os Sebastianistas, à frente dos quais esteve na actualidade o meu querido Amigo Fernando Pessoa, também Um dos Oito Maiores de Portugal que só depois da Morte teve uma tardia consagração, aliás incompletíssima, continuando a ser absolutamente incompreendido e limitando-se afinal os Seus pseudo-consagradores a adulá-lo, duma forma quase sempre vil, com fins mesquinhamente interesseiros ou então facciosamente políticos, impregnados dum acanhado, estreito, baixo, falso nacionalismo, os Sebastianistas, ia eu dizendo, representados, posteriormente, pelo poeta Augusto Ferreira Gomes, autor do livro de poemas, verdadeiramente impressionantes, intitulado O Quinto Império, e por mim, não pretendem de modo algum, glorificar decadentistamente a derrota de Alcácer-Quibir! O que pretendem, pelo contrário, é realizar na sua mais alta expressão, no seu mais profundo sentido o Sonho exaltadamente Místico que D. Sebastião lançou no Mundo, mas que não conseguiu realizar! Qual foi então a Grande Aspiração do Rei-Precursor? Destruir para sempre na Terra a impiedade e impor definitivamente à humanidade inteira o Reino ele Deus, o Espírito Divino! É, porventura, este um ideal derrotista, dissolvente? ter a nossa Grande Pátria por Altíssima Missão, segundo o Sebastianismo, espalhar no Mundo a Essência de Deus, fundando o Quinto Império, é, porventura, o mesmo que procurar a consagração ímpia da Derrota, que procurar, enfim, Viver a Queda, considerando-a angustiosamente, cobardemente, dissolventemente inevitável. invencível. Fatal, à maneira existencialista e, em parte, surrealista? Pelo contrário, o que os verdadeiros sebastianistas pretendem é erguer definitivamente e inteiramente da Queda o Homem-Terral É esta a Missão Grandiosa que está destinada a Portugal...!"
A Idade Paracletiana de Raul Leal (org. Manuel J. Gandra)
Autor: Manuel J. Gandra
Edição ou reimpressão: 2020
Editor: Manuel Gandra
Idioma: Português
Dimensões: 158 x 232 x 41 mm
Encadernação: Capa mole
Páginas: 550
Tipo de Produto: Livro